A conhecida miopia do Poder e do Grande Capital para com as questões ambientais em geral e com o Aquecimento Global em particular, usa agora óculos. Óptimo, pensamos nós tentando descobrir que superiores desígnios motivaram esta inesperada e exacerbada sensibilidade: talvez os reiterados avisos de cientistas, ambientalistas e sociólogos para a catástrofe ambiental e humanitária que se avizinha à escala global, ou talvez os repetidos apelos de políticos mais ou menos avisados como Al Gore.
Mas não, o Oftalmologista responsável por estas vistas largas responde pelo nome de Sir Nicholas Stern. Não, não é um ambientalista, é mesmo um Economista.
Stern foi é um dos mais reputados especialistas financeiros do Reino Unido, economista-chefe e vice-presidente do Banco Mundial entre 2000 e 2003, membro da Academia Britânica e da Academia Americana das Artes, e produziu um estudo sobre os efeitos do aquecimento na Economia, que conduziu ao famoso Relatório Stern, sob encomenda de Gordon Brown, futuro Primeiro Ministro Britânico. O resultado do estudo mostrou-se alarmante apontando para que, se nada for feito, o clima poderá aquecer até 5ºC, e as alterações climáticas custarão anualmente, no futuro, entre 5% e 20% de toda a riqueza produzida no planeta: qualquer coisa como 5,5 biliões de euros por ano a partir do final deste século, ou seja 37 vezes o PIB português.
Trezentos milhões de pessoas poderão tornar-se refugiados climáticos e 40% das espécies animais correrão o perigo de extinção. Mas o estudo também trás boas notícias: o colapso económico poderá ser evitado se um conjunto de países mais abastados investirem anualmente 1% do seu PIB em medidas concretas de prevenção do aquecimento global. Stern conseguiu convencer o poder e o capital que combater as alterações do clima é um investimento como outro qualquer – semear hoje um euro para amanhã colher vinte, quem sabe mais... Feito o aviso, começámos a assistir à correria desenfreada dos líderes mundiais para apresentarem as suas soluções e investimentos em projectos que visem deter o aquecimento global.
Paul Wolfowitz, ex falcão neo-conservador da Administração Bush e actualmente presidente do Banco Mundial regozijou-se com “a fundamental análise económica dos assuntos relacionados com as alterações climáticas” do Relatório, John Howard, primeiro ministro Australiano, que nunca ratificou o Protocolo de Quioto, anunciou um investimento de 38 milhões de euros em projectos que ajudassem reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, e até o próprio Bush parece hoje querer fazer tábua rasa da sua alarve atitude de negação do processo de alterações climáticas e abrir os EUA a futuras iniciativas neste sentido.
Para além do que sustenta James Hansen - “Quanto aos aspectos técnicos, fazer parar a subida da temperatura global para menos um grau Celsius está inteiramente ao nosso alcance. Tudo depende agora de um público informado que reforce a vontade política dos dirigentes deste planeta em aquecimento.”, um Grande Capital informado e preocupado parece valer mais do que mil milhões de terráqueos motivados. Não será pelos melhores motivos, mas, neste caso, a hipocrisia é bem vinda, os fins justificam os meios e o Planeta agradece.
CRD:obviousmag
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